sexta-feira, 1 de julho de 2011

Onde tudo começou...

Sabe aquela tia, que cozinha muito bem e é sempre requisitada na cozinha, em todas as festas?  Pois é, minha mãe é essa Tia na nossa família e antes dela foi a minha avó. Tudo que elas fazem, fica bom (mesmo quando a receita não dá certo). Daí veio a minha paixão por cozinhar e também por comer. Tinha sempre algum doce novo, uma receita nova para experimentarmos em casa. Acho que por isso, desenvolvi um hábito (muito chato, é verdade!) de sempre experimentar coisas novas – até aqui, nada de chato - e não só isso, de ficar decifrando, a cada garfada, os ingredientes daquela receita. Hummm, com certeza vai mel... ou nossa, exageraram na canela. Esses comentários de tia velha, que para quem não gosta de cozinhar e não sabe a diferença entre limão e lima, são vistos como uma atitude chata, irrita muita gente.Que interessa o que tem aqui? Interessa é se a comida está boa ou não.
Pois é, para mim não basta somente o “está bom ou não”. Se está bom, quero saber o porquê. Foi algum ingrediente que colocaram? Ou foi a falta dele que tornou aquele momento, aquela garfada surpreendente? O mesmo acontece quando provo alguma coisa e não gosto. Quero saber o que foi que me desagradou até para não usar este ingrediente da mesma maneira. E por isso, muitas vezes mesmo não gostando, vou insistindo e provando mais e mais para descobrir a receita toda.
Uma loucura! Patologia mesmo. Essas coisas que se passa de mãe para filha. Tudo que você criticou na sua mãe e que, mais cedo que você imagina, você vai fazer igualzinho (ou pior).
Minha mãe (assim como minha avó) tinham as receitas como base, mas nunca foram aquelas que seguem exatamente o que foi recomendado. Elas sempre mudavam alguma coisa, trocavam algum ingrediente, ou simplesmente não colocavam outro. E o resultado sempre era bom, geralmente melhor que a receita original. Acho que foi isso que deu a elas a segurança de continuar a fazer essas trocas. Para muitos, pode parecer pretensão, mas não é. A receita é alterada sempre com a melhor das intenções: para tirar um ingrediente que fulano não gosta, colocar outro que é o preferido do neto, ou simplesmente porque em casa, naquele momento não tinha o tal ingrediente.
Acho que são razões muito convincentes, mas sempre critiquei minha mãe quando experimentava alguma coisa que ela sempre fazia e estava diferente. Eu dava a primeira garfada, percebia que não estava igual e perguntava: você fez alguma coisa diferente desta vez? A primeira resposta sempre era: não, fiz igualzinho. Daí, como num passe de mágica, estava lançado o desafio: eu tenho certeza que está diferente, vou descobrir o que é. Quando dei por mim, estava como a tia que adivinha os ingredientes  da receita da vizinha. Eu era a tia velha da vez. E aproveitando todas as papilas gustativas da minha língua, ia reproduzindo a receita e a proporção de cada ingrediente. Até que soltei minha pérola: mãe, você não colocou limão desta vez! O sorriso encabulado dela entregaria qualquer negativa, mas não foi preciso, ela confessou: pois é, não tinha limão, coloquei lima!
Então não fez igualzinho, certo? Pois é, eu sei que parece exagero, mas me sinto enganada quando vou comer algo que já tenho registrado na minha memória e o cozinheiro mudou alguma coisa. É muito frustrante. Como o suspiro da minha mãe não tem mais aquele azedinho de limão? Quando for assim, deveria haver um aviso: receita alterada, tem certeza que você quer provar?
Com certeza devo à minha mãe e minha avó o fato de gostar de cozinhar, mas também devo minha neurose por decifrar, na ponta da língua, cada receita que experimento. Freud explica!

2 comentários:

  1. OI Brasuca!

    Continuo a espera da abertura da filial em Portugal, nao vou trabalhar mas para comer conta comigo.

    Beijos, Portuga

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